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EDUCAÇÃO SISTÉMICA

EDUCAÇÃO/PEDAGOGIA SISTÉMICA , mais uma das ÁREAS do Congresso que surge da análise da Educação baseada nas ordens superiores que regem as relações humanas.

O Modo como aprendemos, experienciamos e ensinamos a Educação impele-nos para uma transformação…

A Educação Sistémica Humaniza, através da inclusão, da ordem, do equilíbrio.

Professores, alunos e pais têm o seu lugar, e devem honrar os seus papéis, incluindo os sistemas familiares, educativos e institucionais.

O Papel de um professor ou a importância do lugar de um professor é olhar com todo o respeito para os pais dos seus alunos e para eles (crianças, jovens)

O lugar do professor é essa aceitação e esse respeito profundo. Esse olhar de respeito.

Conscientes dos inúmeros desafios desta área, e do poder de resolução decorrentes da Visão e Postura Sistémicas, convidámos Professores e outros elementos da área da Educação,

a estarem presentes nestes 3 dias de Transformação do Inconsciente Coletivo.

Partilhamos convosco a Carta que enviámos.

Se se sentirem tocados por este movimento, se tiverem vontade de saber mais, se o considerarem útil para alguém que conheçam, entrem em contacto connosco ou partilhem esta informação.

Faça parte deste movimento de transformação da Consciência Humana!

#Unidos num Só Coração 

Maria Gorjão Henriques

Assista ao Vídeo da Educação Sistémica

Educação Sistémica

Tiiu Bolzmann
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O amor entre pais e filhos. Benção ou obstáculo? por Tiiu Bolzmann

Terapeuta Familiar Sistémica, Supervisora Sistémica e Formadora em Aconselhamento Sistémico
As crianças são as pessoas mais próximas que temos.

Um filho, uma filha, são “o nosso sangue”, carregam os nossos genes, a nossa história familiar, e com ela tudo o que somos. Nós próprios também carregamos tudo de nossos pais e eles, por sua vez, carregam tudo dos seus próprios pais.

Também podemos observar essa proximidade na vida quotidiana. Nos filhos, quando os pais adoecem, e a mãe se preocupa com o pai ou o pai com a mãe. Quando os filhos descobrem os problemas que o pai ou a mãe têm no trabalho, com dinheiro, com os vizinhos, com os sogros e, muitas vezes, também quando há desentendimentos entre eles como casal. Na verdade, as crianças sabem tudo sobre seus pais.

O vínculo entre pais e filhos é o vínculo mais forte que existe e, embora não estejam diretamente envolvidos nas relações íntimas do casal, eles apercebem-se sempre quando algo acontece, e preocupam-se.

Todas as crianças estão cientes dos seus pais. Não importa a idade deles (nem dos filhos, nem dos pais). Cada época tem a sua própria expressão de preocupação. O bebé nos primeiros meses não dorme, por eles; na infância, a criança adoece, para eles; na adolescência, eles lutam por eles; e em todos os casos esta preocupação torna-se um problema para o filho, ou filha, na vida adulta.

O amor incondicional que temos pelos nossos pais leva-nos a procurar, a todo custo, uma solução para eles.

E assim desgastamo-nos, porque não percebemos que a solução não está nas nossas mãos.

Todas as criança querem que os pais estejam bem e que fiquem juntos para o resto da vida.

Esse desejo é intrínseco à própria vida, porque somos, desde a conceção, nossos pais.

Toda a criança carrega os dois, a mãe e o próprio pai, não é possível escapar a esta fusão.

É por isso que vivemos com o desejo de que os dois permaneçam unidos para sempre. Em muitos casos, os filhos percebem quando o relacionamento entre os pais se esgota, e entendem que seria melhor a separação. Mas esse “entendimento” leva-os de volta ao conflito, porque sabem que essa separação é boa para um, mas difícil para o outro. Esta dinâmica de ver que um dos pais se sente bem, e que o outro se sente mal, é o que experimentamos desde sempre, mesmo antes de entendermos que, ao longo da vida, nos sentimos “ao serviço” dos nossos pais de diferentes formas. 

Lembro-me muito bem que meu padrasto, quando discutia com minha mãe (por que motivo? Nunca soube), ficava muito tempo sem falar com ela. Não me lembro se eram dias, semanas ou meses, a mim parecia-me uma eternidade. Ao jantar ele dizia: “diga a sua mãe que não quero mais sopa.” Eu olhava para um e para o outro. Não sabia o que fazer. Eu sentia-me muito mal pois sabia que ela o tinha escutado e, se eu atendesse ao seu pedido parecia mostrar que estava a tomar partido dele.  Mas, em contrapartida, se eu não falasse, eu também me sentia muito mal com meu padrasto, por estar a desobedecer-lhe e, além disso, a mostrar tomar partido da minha mãe. 

Foi um jogo terrível para mim e, embora ele não fosse meu pai biológico, ficava sempre com o meu coração partido. Eu sabia que minha mãe o amava, e que ele amava a minha mãe. Não conseguia entender como duas pessoas que se amavam se podiam magoar tanto.

Não importa se os filhos estão presentes nas brigas dos pais ou não, eles percebem que algo está a acontecer e que esse “algo” pode ser perigoso. A mãe e o pai distanciam-se, e o filho percebe isso como uma ameaça contra si mesmo, contra sua própria integridade.

O que é verdadeiramente trágico é que os filhos nunca estão presentes nos momentos em que os pais se voltam a aproximar.

Principalmente quando a reaproximação se dá na intimidade. Assim, os filhos vivenciam apenas o conflito, mas não estão presentes na reconciliação. Eles ficam com o “mal” que um fez ao outro, e então questionam essa reconciliação, porque não entendem como podem ficar bem depois do que aconteceu. 

Uma situação especialmente desagradável é quando um dos pais dá informações íntimas sobre o outro progenitor ao filho, algo que deveria permanecer apenas entre os pais. Nesse caso, podemos perder o respeito por eles.

Essas informações invadem muito a nossa alma e, em muitos casos, não podemos conviver com o preconceito que isso gera sem nos ferirmos.

Na nossa alma não podemos suportar que um de nossos pais perca a dignidade.

De repente, sentimo-nos “obrigados” a julgar e a tomar partido de um, em detrimento do outro.

Essa divisão prejudica a alma do filho e, nos casos mais extremos, deixa marcas para toda a vida. 

Quanto nos teria ajudado entender que os conflitos do casal fazem parte da vida, que não devem ser evitados, mas resolvidos?

Nas famílias que têm uma cultura de permitir conflitos e buscar soluções, essa ameaça angustiante não ocorre. Para os filhos é de grande ajuda quando os pais lhes mostram que, apesar da discordância entre eles, eles podem continuar a se sentir seguros.  A solução não é desfazer o conflito, mas respeitá-lo e deixá-lo nas mãos daqueles a quem pertence.  Mas este entendimento surge com a maturidade. Quando somos mais novos não temos recursos para fazer essas reflexões sobre relacionamentos.

Podemos passar a vida a reclamar dos danos que os nossos pais nos causaram, e permanecermos como vítimas dos acontecimentos ocorridos na nossa infância e adolescência. Porém, desta forma, o nosso comportamento remete para a infância, permanecemos crianças.

Perdemos poder quando não vemos que já somos responsáveis ​​pelas nossas vidas e que, como adultos, temos a hipótese de “digerir” esses eventos traumáticos e sair dos “enredos”.

Claro que dói. Em primeiro lugar, dói quando voltamos a sentir as emoções oprimidas daquela época. Em segundo lugar, dói desistir do desejo de ser diferente. Então dói abrir mão do “direito de ficar com raiva e indignado” com os pais. Finalmente, dói perceber o quanto desse comportamento foi adotado por nós nos nossos relacionamentos com nossos próprios filhos. No trabalho sistémico com as Constelações Familiares podemos colocar-nos como adultos no nosso lugar de crianças. E assim olhar para os nossos pais e ver a dignidade de ambos, com as suas possibilidades e limitações

Embaixadores Consciência Sistémica
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SOLIDARIEDADE por Maria Gorjão Henriques

Maria Gorjão Henriques

Mentora e organizadora do I e II Congresso Internacional de Consciência Sistémica
realizados em Portugal.

O conceito de Solidariedade implica ter um espaço interno para incluir o outro dentro de nós, mas, para que isso aconteça da forma certa, o outro precisa de ser incluído com total aceitação, e sem que queiramos mudar nada na sua dimensão humana, familiar, social ou racial.

A Solidariedade verdadeira implica perguntar, organizar, materializar e proporcionar ao outro o que ele precisa, à maneira dele e respeitando a sua cultura e modo de Vida. Esse caminho interno é longo e pressupõe algum desenvolvimento pessoal e espiritual, para que saibamos caminhar da empatia até à compaixão, com muita humildade, sem nos substituirmos ou enfraquecermos a dignidade.

Desde a conceção até ao nascimento, tudo tem uma ordem.

Como seres humanos, estamos vinculados a uma imensidão de sistemas. Desde o nosso corpo, à família, ao país, ao continente que pertencemos. Todos eles formam um sistema integrado e interrelacionado que nos influencia, sem estarmos conscientes.

Precisamos de aprender a viver em função deste entendimento para integrarmos, “da pele para dentro”, que tudo o que acontece com o outro também nos diz respeito e, ao mesmo tempo, influencia o desenvolvimento da consciência coletiva, a partir da

qual todos nós nos alimentamos, nos níveis mais profundos do nosso Ser.

Ainda somos muito pouco conscientes das reais motivações que nos fazem abraçar certos projetos, tomar determinadas decisões e até mesmo escolher e determinar o que tantas vezes chamamos de Missão de Vida.

A questão de fundo prende-se com as reais motivações que sentimos quando decidimos querer Ser Solidários, e oferecer o nosso tempo e energia a alguém, ou mesmo a uma causa ou projeto de Solidariedade Social?

Temos vários níveis de lealdades que nos movem até sermos capazes de discernir o que, na nossa pureza e essência, se expressa através de nós.

Até conseguirmos ser lúcidos e conscientes de todas estas influências sistémicas somos movidos e motivados a atuar através de vários níveis de lealdades, independentemente de algumas partes de nós poderem estar ao serviço do algo maior, a partir do qual a vibração da nossa Alma se expressa. Na realidade, somos movidos por vários níveis de consciência, e cada um desses níveis está ao serviço da completude, da inclusão e da necessidade de equilíbrio que em algum momento do tempo foi perdida.

Podemos sentir-nos chamados a viver a nossa vida através de projetos de solidariedade, mas é importante observar que existem vários níveis de motivação que nos podem convocar a viver dessa forma:

  1. A nossa Alma ter o chamamento natural inato para movimentos de solidariedade, porque nascemos com um determinado propósito e sentimo-nos movidos, empurrados, para que a vida se expresse através da forma como nos doamos. Então, permitimos que o que se expressa através de nós, reverbere para fora de forma natural;
  2. Sentirmo-nos motivados a envolvermo-nos nesses projetos como uma forma de compensação para com alguém, ou para com uma memória familiar de injustiça, humilhação, pobreza, vazio, destinos difíceis ou algum evento marcante da nossa família de origem que, de alguma forma, espiamos através da maneira como nos doamos. Neste caso, procuramos compensar, através dos outros, essas memórias próprias do clã.
  3. Alguns traumas acumulados da nossa infância, e, por sentimentos de carência, precisarmos de dar aos outros o que na verdade não tomamos para nós ou de nós próprios.

Nos últimos dois casos, a necessidade de reconhecimento e de compensação servem de motor para que a pessoa se dedique, de corpo e Alma, a uma causa que, na verdade, mais não é do que a necessidade de devolver ao clã a sua dignidade ou o sentimento de inclusão, de forma a ser vista por si mesma.

É possível que em cada um de nós resida um pouco de cada uma destas versões e motivações mais inconscientes, que a dança da Vida nos mostra através dos véus de ilusões que criamos, e que vamos derretendo à medida que evoluímos e lidamos com a princípio da realidade.

É sempre mais fácil projetarmo-nos fora de nós, e vermos nos outros as suas dores e vazios, do que mergulhar na verdadeira solidariedade para connosco próprios, e assumirmos que essas dores também são nossas.

 

A vibração do coração precisa de ter o seu espaço interior para reverberar para o exterior.

Seremos todos capazes de ser solidários no dia em que aprendermos a viver pacificados em nós. Nessa altura, não será precisa solidariedade, porque todo o Ser Humano estará a ocupar o seu lugar, e não haverá desigualdades sociais.

Até lá, só posso expressar a minha profunda gratidão por todos nos sentirmos empurrados a compensar dores e lealdades inconscientes desta forma “solidária”. Apesar da projeção, muita coisa é feita, e muitas Vidas encontram um porto seguro!!!

Bem-haja à Vida!

Maria Gorjão Henriques 

Sami Storch
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O DIREITO SISTÉMICO É UMA LUZ NO CAMPO DOS MEIOS ADEQUADOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS por Sami Storch

A Visão do DIREITO SISTÉMICO, e a sua ação,  por Sami Storch.
Sami Storch é Juiz de Direito no Estado da Bahia, Mestre em Administração Pública e Governo e autor da expressão “Direito Sistémico” e do blog com o mesmo nome.
Convidámo-lo a escrever um pouco sobre a “sua  área”,
pelo que abaixo publicamos um dos textos que gentilmente nos enviou. 

(…) Há muito que se observa a incapacidade do Poder Judiciário em processar e julgar a quantidade de ações que lhe são apresentadas. A estrutura pessoal e material existente não é suficiente.

Por outro lado, já é reconhecida no meio jurídico e na sociedade, a necessidade de novos métodos de tratamento dos conflitos. Métodos que permitam não apenas uma decisão judicial que estabeleça, como deve ser, a solução para cada conflito — dizendo às partes quais os respetivos direitos e obrigações , mas também dar paz aos envolvidos. Permitindo que eles mantenham um bom relacionamento futuro e, inclusive, tratem de forma amigável outras questões que possam surgir.

A tradicional forma de lidar com conflitos no Sistema Judiciário já não é vista como a mais eficiente.

Uma sentença de mérito, proferida pelo juiz, quase sempre gera inconformismo e, não raro, desagrada a ambas as partes. Em muitos casos enseja a interposição de recursos e manobras processuais, ou extraprocessuais, que dificultam a execução. Como consequência, a pendência estende-se no tempo, gerando custos ao Estado, incerteza e sofrimento para as partes envolvidas.

Tal fenómeno é ainda mais visível nos conflitos de ordem familiar, que têm origem quase sempre numa história de amor, e geralmente envolve filhos.

A instrução processual é nociva para todos os envolvidos.

Cada testemunha que depõe a favor de uma parte pode trazer à tona fatos comprometedores relativos à outra, alimentando ressentimento e dificultando a paz. Assim, mesmo depois de julgada a ação, esgotados os recursos e efetivada a sentença, o conflito permanece.

A conciliação no âmbito judicial está instituída há bastante tempo na legislação brasileira, e é largamente aplicada nas causas cíveis, com mais ênfase naquelas relativas às Famílias.

Também para o tratamento relativo aos crimes de menor potencial ofensivo, a mesma lei prevê a composição civil dos danos como forma de resolver conflitos, evitando-se uma ação penal. Mas outros métodos também se tornam necessários para desafogar os tribunais e resolver os conflitos.

Há 12 anos que utilizo técnicas de constelações familiares sistémicas, obtendo bons resultados na facilitação das conciliações e na busca de soluções que tragam paz aos envolvidos nos conflitos submetidos à Justiça, em processos da “Vara de Família e Sucessões”, e também no tratamento de questões relativas à infância e juventude e à área criminal, mesmo em casos considerados bastante difíceis.

Trata-se de uma abordagem originalmente utilizada como método terapêutico pelo terapeuta e filósofo alemão Bert Hellinger, que a partir das constelações familiares desenvolveu uma ciência dos relacionamentos humanos, ao descobrir algumas ordens (leis sistémicas) que regem as relações. Essa ciência foi batizada pelo seu autor com o nome de Hellinger Sciencia.

O conhecimento de tais ordens conduz-nos a uma nova visão do Direito, e de como as leis podem ser elaboradas e aplicadas de modo a trazerem paz às relações.

A expressão “Direito Sistémico”, termo cunhado por mim quando lancei o blog Direito Sistémico (direitosistemico.wordpress.com), surgiu da análise do Direito sob uma ótica baseada nas ordens superiores que regem as relações humanas, conforme demonstram as constelações familiares desenvolvidas por Hellinger.

Segundo essa abordagem, diversos problemas enfrentados por um indivíduo (bloqueios, traumas e dificuldades de relacionamento, por exemplo) podem derivar de fatos graves ocorridos no passado não só do próprio indivíduo, mas também de sua família, em gerações anteriores, e que deixaram uma marca no sistema familiar. Mortes trágicas ou prematuras, abandonos, doenças graves, segredos, crimes, imigrações, relacionamentos desfeitos de forma “mal resolvida” e abortos são alguns dos acontecimentos que podem gerar emaranhamentos no sistema familiar, causando dificuldades em seus membros, mesmo em gerações futuras.

As constelações familiares consistem num trabalho onde pessoas são convidadas a representar membros da família de uma outra pessoa (o cliente), e, ao serem posicionadas umas em relação às outras, sentem como se fossem as próprias pessoas representadas, expressando os seus sentimentos de uma forma impressionante, ainda que não as conheçam.

Vêm à tona as dinâmicas ocultas no sistema do cliente, que lhe causam os transtornos, mesmo que relativas a fatos ocorridos em gerações passadas, inclusive fatos que ele desconhece. Podem-se propor frases e movimentos que desfaçam os emaranhamentos, restabelecendo-se a ordem, unindo os que no passado foram separados, proporcionando alívio a todos os membros da família e fazendo desaparecer a necessidade inconsciente do conflito, trazendo paz às relações.

“O Direito sistémico vê as partes em conflito como membros de um mesmo sistema, e ao mesmo tempo vê cada uma delas vinculada a outros sistemas dos quais simultaneamente fazem parte (família, categoria profissional, etnia, religião etc.) e procura encontrar uma solução que, considerando todo esse contexto, traga maior equilíbrio.”

Há temas que se apresentam com frequência: como lidar com os filhos na separação, as causas e soluções para a violência doméstica, questões relativas à guarda e alienação parental, problemas decorrentes do vício (em geral relacionado a dificuldades na relação com o pai), litígios em inventários nos quais se observa alguém que foi excluído ou desconsiderado no passado familiar, entre outros. Cada um dos presentes, mesmo os que se apresentem apenas como vítimas, pode frequentemente perceber de forma vivenciada que há algo na sua própria postura ou comportamento que, mesmo inconscientemente, estava a contribuir para a situação conflituosa. Essa perceção, por si só, é significativa e naturalmente favorece a solução.

Em ações de família, muitas vezes uma constelação simples, colocando representantes para o casal em conflito e os filhos, é suficiente para evidenciar a existência de dinâmicas como a alienação parental e o uso dos filhos como intermediários nos ataques mútuos, entre outros emaranhamentos possíveis. Essas explicações têm se mostrado eficazes na mediação de conflitos familiares e, em cerca 90% dos casos, as partes reduzem resistências e chegam a um acordo.

Em alguns tribunais, no Ministério Público e na Defensoria Pública, têm sido realizadas experiências na área criminal, com o objetivo de facilitar a pacificação dos conflitos e a melhoria dos relacionamentos, incluindo réu, vítima e respetivas famílias. As constelações têm servido de prática auxiliar no trabalho com a Justiça restaurativa, ajudando a preparar as partes e a comunidade envolvidas, para que possam dar um encaminhamento adequado à questão.

No âmbito penitenciário, multiplicam-se as práticas, visando proporcionar aos presos uma oportunidade de compreender as dinâmicas ocultas por trás do padrão criminoso, e olhar para onde está o amor que, de forma cega, os fez repetir os comportamentos antissociais já ocorridos em gerações passadas, na história da própria família.

As reações dos participantes têm indicado resultados notáveis.

Independentemente da aplicação da lei penal, acredito que as constelações possam reduzir as reincidências, auxiliar o agressor a cumprir a pena de forma mais tranquila e com mais aceitação, aliviar a dor da vítima e, quem sabe, desemaranhar o sistema para que não seja necessária outra pessoa da família se envolver novamente em crimes, como agressor ou vítima, por força da mesma dinâmica sistémica.

Durante e após o trabalho com constelações, os participantes têm demonstrado boa absorção dos assuntos tratados, um maior respeito e consideração em relação à outra parte envolvida, além da vontade de conciliar — o que se comprova também com os resultados das audiências realizadas semanas depois e com os relatos das partes e dos advogados da comarca.

SAMI STORCH

SAMI STORCH é também um dos palestrantes do CONGRESSO DE CONSCIÊNCIA SISTÉMICA, 
e estará presente em DUAS palestras na área temática DIREITO SISTÉMICO.

Assista também à live de SAMIT STORCH com a fundadora do Congresso, Maria Gorjão Henriques,

sobre o tema DIREITO SISTÉMICO.

Tanja Meyburgh
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As Tradições de Cura Ancestrais Africanas e a Prática de Constelações Familiares

As Tradições de Cura Ancestral Africanas e a Prática de Constelações Familiares

Por Tanja Meyburgh, 2010

Tanja Meyburgh é psicóloga, treinadora e supervisora ​​de Constelações de Sistemas e Famílias, e é colaboradora regular do jornal internacional de constelações, The Knowing Field.

Fundadora das Constelações Africanas, é a principal pioneira no trabalho de constelações na África do Sul, com 18 anos de experiência especializada neste área.

Ajudou organizações na África do Sul envolvidas com dependência, adoção, trauma, violência política, desenvolvimento comunitário e diversidade e, recentemente, Tanja foi cofundadora do Ancestral Connections, que integra a dança e as constelações, e da REAL Academy.

O seu trabalho é descrito, por quem a conhece, como gentil e incisivo. Tanja mora na Cidade do Cabo e o seu nome e trabalho estão intimamente ligados à conexão entre as tradições de cura ancestrais, e a prática de constelações familiares.

Desde a minha primeira experiência com constelações, na tradição de Bert Hellinger, em 2002, que soube intuitivamente que algo africano estava no seu centro. Intui que havia algo realmente importante a ser descoberto no encontro entre África e o Ocidente, na Constelação Familiar, e isso deu início a uma longa busca.  Este conhecimento tornou-se a chave para entender e garantir a minha saúde e bem-estar, a dos meus clientes, e o treino de facilitadores”.

No artigo que escreveu a este respeito, Tanja Meyburgh, mostra quão delicado e cauteloso é falar sobre a cultura africana. Passar para o papel este tipo de informação da sociedade tradicional africana, que o faz usualmente através de canções e histórias, e do professor para iniciar, deixou Tanja muito hesitante.

Depois de entrevistar de alguns formadores e facilitadores negros africanos, as duas conexões mais óbvias entre as Constelações Familiares e as crenças tradicionais africanas são confirmadas.

1) o reconhecimento de que nossos ancestrais são vitais para o nosso bem-estar:

“A cultura Zulu tem uma forte crença nos Ancestrais “Amadlozi”, em relação a se conectar com eles para apaziguar, liberar ou pedir certas coisas. Eles são considerados os nossos guias, e são compostos por pessoas que conhecemos e que deixaram este planeta. Constelar uma questão não resolvida é semelhante a fazer uma cerimónia, conversar com um antepassado”. (Zondi-Rees, 2007)

“A crença nos ancestrais está enraizada na necessidade ou desejo de preservar a memória de gerações passadas conhecidas, e linhagens conhecidas ou desconhecidas. A ênfase em reconhecer os excluídos é o alicerce da cura para várias doenças, como desconforto corporal, discórdia espiritual ou necessidade comum de afastar o infortúnio ou uma maldição que será projetada por espíritos malévolos. Os bons espíritos são reconhecidos e agradecidos por meio de cerimónias ou rituais de limpeza”. (Mthembu-Salter, 2005).

2) o uso de adivinhação por curandeiros africanos tradicionais para receber as mensagens dos ancestrais “jogando os ossos”.

Os ossos consistem em símbolos para vários membros da família, bem como elementos simbólicos relacionados à vida de uma pessoa: dinheiro, amor, poder, órgãos do corpo, força vital, etc”. (Tanja, 2010)

Nas terapias africanas, a leitura dos ossos pode ser usada para localizar patologias. No entanto, é mais vital revelar um padrão de relacionamentos patológicos afetados – e recursos. Os ossos revelam rituais e muthi (medicina) para estabelecer relações familiares e ancestrais. Da mesma forma, uma constelação familiar revela desconforto e recursos dentro de toda a constelação – ao invés da patologia do paciente. Uma constelação revela remédios (“muthi espiritual”): como se curvar ou dizer certas frases – que na verdade são pequenos atos de ritual cerimonial – para estabelecer relacionamentos”. (de Wet, 2010).

Perante estas constatações, Tanja questiona o que fez Bert Hellinger não reconhecer esta conexão? E equaciona se não terá sido intencional, como forma de respeitar a tradição e os costumes sagrados africanos.

Mas então o que Hellinger aprendeu com os líderes espirituais locais, numa época em que se esperava que ele os convertesse às suas próprias crenças?

Foi esta questão que moveu Tanja a mais e mais investigações e, aos poucos, lhe permitiu aclarar o que havia intuído: a conexão entre a Constelações familiares e as tradições africanas de cura:

  1. Reconhecimento de que nossos ancestrais e familiares estão profundamente ligados ao bem-estar e à doença, e que o relacionamento é simbiótico e de recursos mútuos.
  2. Compreender que o indivíduo é parte integrante de sua família e linhagem ancestral e nunca pode ser desconectado dela.
  3. Alinhamento em termos de ordem na família – quem vem primeiro, linhagem geracional e continuidade da árvore genealógica; incluindo levar em consideração aqueles que ainda podem causar problemas até serem reconhecidos e reconhecidos.
  4. A importância do efeito da parte excluída, ou questões na vida de uma família e de uma pessoa, seja ela consciente ou inconsciente.
  5. Cura usando o simbolismo.
  6. A representação espacial e física dos membros da família e elementos intrapsíquicos de “arremesso dos ossos” são semelhantes à colocação de representantes em constelações familiares.
  7. Honrar os mais velhos e a hierarquia de pais e filhos.
  8. Conexão com o falecido e o lugar legítimo dos mortos.
  9. Colapso do passado, presente e futuro em tempo e lugar definido pelo ritual / constelação.
  10.  A prescrição de rituais e cerimónias como dever de casa após a consulta.

Constelações familiares como ritual

Os rituais fazem parte das tradições africanas. De acordo com as observações registadas, e com os ancestrais africanos curandeiros que consultou, Tanja relata que a Constelação Familiar é considerada um ritual de alto nível, o que significa que tem muito “calor aleatório”. (energias que podem facilmente ligar-se a outros vulneráveis ​​e torná-los suas famílias doentes).

 

“Havia regras rígidas para a preparação dos participantes e facilitadores, bem como para o espaço criado em torno do próprio ritual. É considerado irresponsável não ter conhecimento dos diferentes níveis do processo ritual, ao realizar o trabalho ancestral e de cura”.

À medida que foi tendo acesso a esta informações, Tanja diz que alterou a sua intenção inicial. E, em vez de procurar o conhecimento Zulu / Africano por trás das Constelações Familiares, passou a olhar para a sabedoria tradicional africana, e perceber que contributo trazia às Constelações Familiares. E foi assim que o conhecimento oculto começou a ser fonte de um profundo insight.

Acredito que muito do que foi deixado de fora do campo tradicional da Constelação Familiar, tem a ver com os limites exigidos para o trabalho ritual seguro, e com a estrutura clara de treino e iniciação exigida para a cura ancestral. Não estou a defender um retorno a estruturas autoritárias maiores, mas sim uma homenagem aos processos rituais e de iniciação, como um meio de apoiar a saúde dos facilitadores e de seus clientes, incluindo isso conscientemente em workshops e treinos” (Tanja 2010)

Saúde do facilitador, clientes e representantes

De acordo com Tanja, na tradição africana, as regras para ritual, cerimónia e trabalho ancestral incluem um diálogo com os ancestrais, antes do evento, abstinência sexual e limpeza corporal antes e depois do evento, bem como queima de ervas quando os espíritos dos ancestrais são invocados.

De acordo com a sua perspetiva ocidental, Tanja sugere a função desses rituais:

  1. Criar consciência e preparação antecipada do corpo e da mente, e enfatizar a importância do autocuidado antes e depois da constelação.
  2. Conexão consciente com os recursos para obter suporte e força.
  3. Centrar o cliente e criar consciência da profundidade da cura ancestral – uma experiência de limiar que não deve ser abordada levianamente.
  4. Marcar o evento no tempo (com início e um fim claros).
  5. Reconhecer o papel do corpo, os seus limites e a proteção energética.

“Observar estes cinco aspetos melhorou dramaticamente os meus próprios níveis de saúde e energia, e dos clientes. Alterei a maneira como entro nas oficinas como facilitador, e como introduzo o processo aos participantes”.

Treinamento do curador / facilitador

Na maioria das tradições africanas para ser um curandeiro ancestral é necessário passar por um intenso processo de treino e iniciação.

“O sangoma de treino ou thwasa permanece de joelhos – e desvia os olhos ao falar com as pessoas. Apesar do aparente desequilíbrio de poder da posição, é um espaço rico e carregado para explorar as fronteiras de comunicação e intimidade. É como ter aulas de direção no mundo espiritual. À medida que o thwasa, acompanhado pelo ancestral-guia, toma conhecimento, transforma a ordem com novos níveis de intimidade. ” (De Wet, 2010).

Eu observei thwasa cujos joelhos estão magoados e a sangrar, duros e com calosidades. Ao princípio achei que fosse um estranho poder autoritário exercido pelo professor, mas com o tempo passei a perceber que esse posicionamento é o principal movimento necessário para facilitar o trabalho ancestral. Lembro-me que Hellinger também foi iniciado de joelhos na Igreja Católica. E integrei o “ajoelhar”:

Depois de todas as ponderações e hesitações sobre a redação deste artigo, um aluno, que recentemente se formou como curandeiro tradicional africano, com ancestrais africanos e alemães semelhantes aos meus, colocou de forma simples: constelações familiares como um sistema, são um resultado da maneira como a alma germânica integrou aspetos da cultura africana”. (Tanja, 2010)

Assista à Live com Tanja Meyburgh aqui: https://youtu.be/aQjV3a5K1T4

Tanja Meyburgh  é também uma das palestrantes do CONGRESSO DE CONSCIÊNCIA SISTÉMICA

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O Papel do Pai, segundo Joaquim Parra Marujo

Joaquim Parra Marujo é psicoterapeuta transpessoal, professor universitário, diretor e investigador da Unitranspessoal: Unidade de Investigação-ação de Psicologia Transpessoal e Gerontologia.

No âmbito da Semana do Dia do Pai, convidamo-la a partilhar a sua visão sobre o que é Ser Pai nos dias de hoje, pelo que ele generosamente nos deixou este testemunho:

“Queridíssimo pai,

Perguntaste-me, há pouco tempo, por que razão afirmo ter medo de ti. Como de costume, não soube responder; por um lado, precisamente pelo medo que tenho de ti, por outro, porque, na base deste medo, existem demasiados pormenores para que possa exprimi-los oralmente, de forma mais ou menos lógica. E se neste momento procuro responder-te por escrito será de forma bastante incompleta porque, também por escrito, o medo e as suas consequências me tolham diante de ti e porque, enfim, a importância do assunto ultrapassa, de longe, a minha memória e o meu entendimento. (…). É claro que as coisas podem não se ajustar na realidade como as provas que apresento na minha carta, a vida é mais do que um jogo de paciências; mas com a retificação resultante desta resposta, uma retificação que não posso nem quero prosseguir em detalhe, aproximou-se, em minha opinião, tanto da realidade que poderá proporcionar algum sossego e facilitar, a ambos, a vida e a morte.”

Franz Kafka, Carta ao Pai (Brief an den Vater, 1919)

Na arte, do método sistémico-fenomenológico e na ciência constelativa procura-se, na fase inicial, a “cura” da floresta (a família passada) e, posteriormente, na fase final, curar a árvore que está adoecer e/ou doente (a família atual, a pessoa). Isto é, trabalha-se os níveis instintivos, freudiano, linguístico, cognitivo, existencial e espiritual, ou seja, é um fenómeno sistémico-fenomenológico, existencial, transpessoal e integrativo.

As constelações sistémicas (familiar, organizacional e educacional/pedagógica) não são uma terapia nem uma intervenção psicoterapêutica, mas, simplesmente, uma técnica e um método para o insight de novos caminhos de bem-estar e de felicidades e de integração, no sistema familiar, dos nossos ancestrais e da família atual.

As constelações sistémicas são um método para alcançar metas previamente definidas, isto é, para gerar mudanças no comportamento do adoecer ou do mal-estar de quem pede a constelação (portador do sintoma).

Numa constelação, como método terapêutico, estabelece-se o setting (como cenário holístico-terapêutico) no momento em que os papéis são distribuídos e especificados. É um marco que tem como objetivo a escolha dos papéis dos representantes que foram dados pelo participante (constelante) em que o terapeuta é, puramente, um facilitador dos processos.

O método terapêutico da constelação desenvolve-se, com base na análise sistémico-fenomenológico da narrativa do constelante, sobre o impacto existencial dos problemas/sintomas que afetam a relação consigo próprio, com o outro e com o eco-sistema em que vive, coabita, coexiste e se movimenta. E, é neste caminhar que se abre o caminho para compreender o papel do Pai, num sistema familiar. 

Atualmente, ainda, não existe fecundação/conceção (nos seres humanos) sem haver um Pai e uma Mãe. 

O fruto (a criança), gerada nesta relação (amorosa ou não), hereditariamente comporta 50% de cada progenitor, assim como, toda uma história transgeracional e psicogeneológica por desvendar.

Para Bert Hellinger “somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o mundo” e para que a criança aprenda a caminhar, pé ante pé, terá de interiorizar a seguridade e a representação social do papel masculino do Pai e consciencializar-se da importância do nutrir e do cuidar da mãe, assim como, a aprendizagem do papel do feminino.

Apesar do advento das neossexualidades, a noção de masculinidade e feminilidade são de extrema importância para a criança.

As neossexualidades conflituam nas fronteiras entre o masculino e o feminino, abrindo novos horizontes para as constelações familiares.

Nos tempos atuais, o Pai, assume cada vez mais comportamentos de cuidar e nutrir similares à Mãe e são, cada vez mais, atenciosos e meigos para com as crianças, esbatendo as velhas referências identificadoras. 

A grande questão que quero problematizar, quer para a criança, quer no processo constelativo é que a identidade masculina é cultural e socialmente construída. Destarte, pergunto quando perguntar, ainda, não ofende: 

  1. Qual será a fronteira entre o masculino e o feminino e que seja válido para a definição de masculinidade e feminilidade na criança?
  2. Como será a construção da identidade masculina e feminina da criança?
  3. Qual o papel do Pai numa relação homossexual masculina e na feminina?
  4. Numa relação amorosa em que hajam filhos “os meus, os teus e os nossos” como será a imagem de cada pai em cada uma das crianças?

Não tenho dúvidas que, na modernidade, os Homens estão cada vez mais conscientes do seu papel como cuidadores afetuosos, meigos e carinhosos para com os seus filhos e com um empower, na condução da sua família, garantido a construção de uma nova identidade masculina, na sociedade contemporânea, onde os homens, também, podem expressar os seus sentimentos, as suas fraquezas, os seus medos e as suas emoções permitindo-lhes tocar, acariciar, sentir, emocionar e chorar como as mulheres.

A hipervirilidade do Homem do passado onde imperava a audácia, a agressividade, a ousadia, a violência e a coragem esfumou-se e esboroou-se.

Bert Hellinger disse que: “Somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o mundo. As mães não podem fazê-lo. O amor dele não é cuidadoso nesta forma como é o amor da mãe. O Pai representa o espírito. Por isso o olhar do pai vai para a amplitude. Enquanto a mãe se move dentro de uma área limitada, o pai nos leva para além desses limites para uma amplitude diferente.”

Por entender, a importância, nas constelações familiares sobre a construção da identidade masculina/feminina quero referenciar Robert Stoller (um dos maiores especialistas sobre a masculinidade e a feminilidade) que estabelece uma relação direta entre identidade de género e identidade sexual arrolando que é:

  • Uma energia procedente entre os cromossomos masculinos e femininos (identidade biológica);
  • Uma indicação do sexo da criança que, por sua vez, é resultante da observação dos genitais externos (identidade anatómica);
  • Uma influência de atitudes dos pais e amigos e a interpretação dessas perceções por parte da criança (processos de socialização);
  • Fenômenos bio psíquicos precoces (efeitos pós-natais), causados por padrões de embalar, de sentir e estar com a criança;
  • O desenvolvimento do ego, ou seja, qualidades e quantidades de sensações/perceções que a criança interioriza (processo de identificação – uma das propriedades do complexo edipiano).

Uma das funções, do pai, é separar a criança da mãe a partir dos 3 anos de idade para promover o desapego da mãe e criar o sentimento de segurança e de disciplina para que o “fogo” do pai se harmonize com a “terra” da mãe. Isto é, para que o nosso herói, o Pai, nos ensine a caminhar, nos limites do Yin e do Yang, para a construção de uma “forte” personalidade para enfrentar um mundo agreste do poder das masculinidades institucionais. É neste processo que o menino se identificará com a masculinidade Pai e a menina com a feminilidade da Mãe.

Estas duas forças são complementares compondo tudo o que existe para caminhar na trajetória vital. Este equilíbrio, são forças de movimentos e de mudanças para um destino equilibrado entre o Dar e o Receber. Entre estas duas forças, está a vida da criança, para que ela possa respirar e unir-se no amor incondicional dos seus progenitores. Ou seja, a criança caminha, no caminho do meio, para aprender o valor do amor, do carinho, da afeição, da confraternização, da solidariedade, do companheirismo, da fraternidade, da tolerância e da liberdade de ser ELA (a criança interna) dentro de um adulto construtor/edificador de uma nova sociedade.

Quero, também, ressaltar que o pai e a mãe são iguais, com primazias iguais e igualmente grandes. Porém, é no ventre materno, o único lugar, na infinitude do universo cósmico e na finitude do universo terreno, que é asséptico que a criança será gerada (um “ET” que viajará pelo éter transgeracional de milhões de ancestrais) que irá desenvolver-se e, enamorar-se pela sua mãe que, lhe dará a oportunidade de ser alimentado, direi mesmo, nutrido de alimentos diversos como de toque, carinho, ternura, meiguice e o simbolismo da palavra.

Para Bert Hellinger “sem pai, sem vida. Sem pai, sem felicidade”, ou seja, a não-identificação ao Pai leva a criança/adulto a procurar modelos culturais identificativos e agentes de mudança em heróis de “banda desenhada”. Isto é, não somos adultos felizes, independentes e mais “completos” (sadios). É, primordial, valorizar e aceitar o Pai para caminhar para o bem-estar e para a felicidade. Romper com o pai ou com um ancestral é a rutura do sistema familiar para viver nas “trevas” de abandonos, de conflitos profissionais e familiares e o adoecer e a doença será, muitas vezes, um caminho. Para Bert Hellinger “tudo aquilo de que me lamento ou queixo, quero excluir. Tudo aquilo a que aponto um dedo acusador, quero excluir. A toda a pessoa que desperte a minha dor, estou a excluí-la. Cada situação em que me sinta culpado, estou a excluí-la. E desta forma vou ficando cada vez mais empobrecido.

O caminho inverso seria: a tudo de que me queixo, fito e digo: sim, assim aconteceu e integro-o em mim, com todo o desafio que para mim isso representa. E afirmo: irei fazer algo com o que me aconteceu. Seja o que for que me tenha acontecido, tomo-o como a uma fonte de força. É surpreendente o efeito que se pode observar neste âmbito.

Quando integro aquilo que antes tinha rejeitado, ou quando integro aquilo que é doloroso para mim, ou que produz sentimentos de culpa, ou o que quer que me leve a sentir que estou a ser tratado de forma injusta, o que quer que seja… quando tento incorporar tudo isso, nem tudo cabe em mim. Algo fica do lado de fora. Ao consentir plenamente, somente a força é internalizada. Todo o resto fica de fora sem me contaminar. Ao invés, desinfeta, purifica-me. A escória fica de fora, as brasas penetram no coração.”  

A fundamental função do Pai, no sistema familiar é apoiar a mãe durante os primeiros anos da criança, para que harmonia familiar contribua para que a criança aceite, igualmente, o Pai e a Mãe. Não aceitar o Pai é abandonar a vida e não aceitar a mãe é a rejeição do seu propósito vivencial. Ou seja, serão adultos sem afetividade e sem a oportunidade de amarem e serem amados.

Quando não amamos (não-aceitamos) o pai, sentiremos o sentimento de abandono e abandonamo-nos a nós mesmos e, quando não amamos a mãe vivemos num vazio existencial de rejeições, de confusões e conflitos com as pessoas que queremos amar.

Aceitar o Pai (amar) é ter o sentimento de realização, no trabalho e o respeito pelas figuras de autoridade. Ao aceitar a Mãe é sentir o sentimento de integração social e perceber o prazer de estarmos inseridos e integrados no mundo onde a prosperidade frutificará em frutos quer económicos, quer familiares, quer culturais, sociais e espirituais. 

Antes de sermos concebidos, vivemos no éter do macrocosmo e aí, escolhemos, em primeiro lugar, a terra (o País) onde iremos aterrar e, depois, os nossos pais para com eles conviver e coexistir e sentirmos as feridas emocionais que não resolvemos noutras vidas como: o abandono, a rejeição, a injustiça, a traição, a humilhação, a co-dependência, etc. 

A relevância do Pai, no sistema familiar, assenta numa trilogia: a autoridade (disciplina), a ajuda e a maturidade para que a criança se torne adulta. Isto é, no encontro entre o Pai e a Criança, haverá um encontro a dois, “olho no olho. Cara a cara. E quando estiveres perto eu arrancarei os teus olhos. E os colocarei no lugar dos meus. E tu arrancarás os meus olhos. E os colocarás no lugar dos teus. Então, eu te olharei com os teus olhos e tu olharás com os meus” (Jacob Levy Moreno).

Para finalizar um texto de J.J. Neto sobre o Pai e a Carta de Bert Hellinger ao seu Pai.

“um Pai vem do amor, ainda que tenha em sua vida experimentado a dor.

O pai vem do homem, ainda preso na armadura do herói para qualquer situação.

Um pai vem do mundo, e por isso está autorizado a nos mostrar a ele.

Um pai vem de uma infância, e lá guardou algumas de suas melhores e também mais difíceis experiências.

Um pai vem do silêncio, pois sabe que certas coisas pertencem somente a si.

Um pai vem da responsabilidade, pois antes do seu prato tem outros para encher.

Um pai vem da solidão, do seu masculino ainda selvagem e autoritário.

O pai vem da lei, da cultura e do tempo que vive.

O pai é a lei.

O pai vem da vulnerabilidade, que ninguém nota. E assim ele aceita e segue.

O pai vem de seu pai e sua mãe, e como um filho, carrega também as dores de sua pequena criança.

O pai vem da surpresa e do medo.

Ele, um homem bem comum e que viveu tanto, dizendo sim para o que surgiu, nos faz chegar nele.

A nós, como filhos, fica somente a possibilidade de dizer sim a ele. E aceitar os presentes que este ato nos traz”.

A carta de Bert Hellinger (no livro – “As Igrejas e o Seu Deus”) ao seu Pai:

Dedico este livro a meu pai Albert Hellinger (1895-1967), com uma carta:

Querido papai,

Por muito tempo eu não soube o que me faltava mais intimamente.

Por muito tempo, querido papai, você foi expulso de meu coração.

Por muito tempo você foi um companheiro de caminho para quem eu não olhava, porque fixava meu olhar em algo maior, como me imaginava.

De repente, você voltou a mim, como de muito longe, porque minha mulher Sophie o invocou.

Ela viu você, e você me falou por meio dela.

Quando penso o quanto me coloquei muitas vezes acima de você, quanto medo também eu tinha de você, porque muitas vezes você me batia e me causava dores, e quão longe eu o expulsei de meu coração e tive de expulsá-lo, porque minha mãe se colocava entre nós; somente agora percebo como fiquei vazio e solitário, e como que separado da vida plena.

Porém, agora você voltou, como que de muito longe, para minha vida, de modo amoroso e com distanciamento, sem interferir em minha vida.

Agora começo a entender que foi por você que, dia a dia, nossa sobrevivência era assegurada sem que percebêssemos em nosso íntimo quanto amor você derramava sobre nós, sempre igual, sempre visando o nosso bem-estar e, não obstante, como que excluído de nossos corações

Algumas vezes lhe dissemos como você foi um pai fantástico para nós?

Você foi cercado de solidão e, não obstante, permaneceu solícito e amoroso a serviço de nossa vida e de nosso futuro.

Nós tomávamos isso como algo natural, sem jamais honrar o que isso exigia de você.

Agora me vêm lágrimas, querido papai.

Eu me inclino diante de sua grandeza e tomo você em meu coração.

Tanto tempo você esteve como que excluído do meu coração.

Tão vazio ele estava sem você.

Também agora você permanece amigavelmente a uma certa distância de mim, sem esperar de mim algo que tire algo de sua grandeza e dignidade.

Você permanece o grande como meu pai, e tomo você e tudo que recebi de você, como seu filho querido.

Querido papai,

Seu Toni (assim eu era chamado em casa).”

Joaquim Parra Marujo é também uma das palestrantes do Congresso de Consciência Sistémica, no qual facilitará uma palestra e um workshop imersivo na área temática Povos, Nações e Territórios.